In the Fall pt.3

O melhor. Simplesmente tem o melhor ambiente, o melhor café, os melhores bolos caseiros, os melhores jornais. Sente-se inteligente, com bom gosto, adulto vá, ri-se da sua pretensiosidade enquanto pede mais uma fatia de bolo de chocolate. A empregada que o serve, tem um corpo fantástico e a algum custo tenta não ser descarado ao ponto que ela perceba que a está a observar. Francisco adora este seu novo estado de espírito, em que sente que consegue separar as suas observações de qualquer desejo directo. É como observar um quadro de Amadeo, não o querendo levar para casa, sem que isso tire qualquer piada à observação.

No fundo Francisco sempre padeceu de um narcisimo que já esteve mais longe de se inserir naquela mania de superioridade europeia que sempre considerou (e considera) insuportável, mas que sempre o fez rir, porque não existe nada melhor que gente sem noção da sua pretensiosidade. Em suma, nada o diverte mais que os "pseudos" da sociedade, mesmo quando se trata do seu projecto de pessoa.

Um dos pseudos que sempre observou, algumas vezes tendo mesmo manejado estes pseudos literalmente entenda-se, foram as "pseudo" provocantes, meninas que acham que são boazonas, giraças, chamem-lhe o que quiserem. E algumas são!, casos que, se retira o pseudo. O problema são aquelas que não são, não que as que o são sejam menos rídiculas atenção, só mesmo porque não têm tanta razão para se "acharem" com as que o são de facto. Acha que compreende, sem que na verdade concorde, porque tentam meter fotos em profiles de uma qualquer social utility, onde tentam mostrar as mamas que só o soutien alcochoado lhes permite ter, a barriga que só metendo o estômago para dentro parece estar quase em forma e o rabo com o qual nunca estão contentes, mas até que aquelas calças o fazem bastante apreciável. Não pensem que considera a vaidade uma futilidade, fazemos bem em ser vaidoso, mas como tudo na vida tudo deve ser q.b. e sempre com noção para não caírmos no rídiculo.

Que pretendem esta grande maioria de miudos e miudas da nossa sociedade, mesmo os com mais de 20 anos? Ir de encontro às expectativas de uma sociedade materialista? Ou esconder o facto de que não têm nada de interessante para dizer, coisa que só vos preocupa à noite no silêncio da cama, quando não estão rodeados dos vossos amigos igualmente ignorantes, igualmente contentes por não serem assim tão desinteressantes, mas que na verdade são?

É que honestamente já ninguém é envergonhado. Porque já todos somos os maiores. Só se é envergonhado quando se é feio ou para fazer jogo de menina pura. A vergonha está directamente ligada ao grau de beleza e quando não está, não é infelizmente sinal de nada de bom. Mas devia. Porque raio é que somos todos SÓ materialistas? Sim porque não é contra o materialismo, sabe o quanto adora um bom corpo, uma mulher bem vestida, um sorriso bonito. Fazem parte das coisas boas da vida. Mas se isto não estiver ligado a uma pessoa interessante, cativante, preocupada com algo que não o seu próprio ego, vale mais que uma noite de sexo, duas se for boa na cama? Não, acha que não. E francamente acha que só pode ser muita cega de alma a pessoa que sendo deste modo, 99% das mulheres com quem esteve até hoje, não entende porque não lhe ligou mais após aquela noite.

Acha que as pessoas deviam ter menos preocupações sobre rapazes e raparigas, ser mais seguras de si mesmas, estar mais desligadas dos materialismos, ter uma visão mais alargada da realidade. E acha rídicula que só conheça uma mão cheia de pessoas assim. É uma pessoa assim que procura.

Sabe que é por ser tão pretensioso, tão exigente com os outros à sua volta, que raramente pôs a hipótese de ter algo sério com alguém. Adora ser arrogante quando é, mas não gosta menos de ser prestável quando o tem que ser. Por ele raramente alguma está mesmo mal no que toca a si mesmo. Mas sempre foi a desilusão do nada que o rodeio, com a ridicularidade que sempre lhe parece as relações dos seus amigos e conhecidos à sua volta que o mais assustou. O modo como começavam, por carência ou por ser "o melhor que se arranja até se conseguir uma miuda mais gira", duas coisas nunca assumidas mas sempre facilmente subentendidas, como discutiam e tinham ciumes quase numa lógica de "tem de ser" (mas tem de ser porquê? gosta-se mais de alguém porque se fazem cenas de ciumes horriveis, ou provas de amor envolvendo relogios com a fotografia do casal? Ok esta última claramente é preciso ter uns tomates gigantes para se andar com um relógio destes, I'll give you that).

Diz isto tudo, tal como dizia antes, mesmo estando apaixonado. Já não nega. Sabe que é verdade. Quanto a isso acha que pode ser o início de algo muito bonito. Se vai ser, não sabe, sabe apenas que por agora tudo corre bem, mas também sabe pelo que viu á sua volta e alguma experiência própria tudo corre bem ao ínicio. Acha que se existir honestidade e partilhas de prismas quanto ao modo como viver algo em comum, no fundo partilha de valores, é mais que meio caminho andado para se ser feliz e Franciso sente que encontrou alguém assim. Pensa isto entre dois beijos a Inês, enquanto a olha nos olhos e pensa que já não quer perceber toda a futilidade do mundo, toda a arrogância em nada construtitiva, prefere nunca sair da idade dos porquês ou simplesmente considerar que existem coisas que não vale a pena que nos preocupemos por muito que sejam parte importante para que se perceba o porquê da infelicidade de muita gente. Não são da sua isso é certo. Olha-a mais uma vez nos olhos, observa o seu sorriso e sente que as mil dúvidas quanto a existência humana que o atormentam são substituidas por uma calma que o faz sorrir.

And you know what? He kind of likes it.

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