Odeia o inverno. Não é a única pessoa que pensa assim, mas o que os outros pensam ou deixam de pensar é na verdade de pouca ou nenhuma importância na sua vida. Acha piada observar os outros sim, estabelecer padrões, mas só porque isso o diverte. E diverte-o mais que nunca no inverno, em que somos atirados para o quentinho da casa, convencidos pelo aquecedor a ficar mais um dia entre quatro paredes. No fundo não percebe porque raio dizem que o aquecimento global é o fim do mundo, só de imaginar 12 meses de sol e praia sente um arrepio pela espinha. Quanto às possíveis consequências, como uma nova idade do gelo, não se preocupa muito porque segundo consta isso só aconteceria no tempo dos netos dele. Há quem diga que pode ser imediato, mas esses cientistas são ainda mais 'túpidos do que o normal dos "gajos" da ciência na sua visão.

Sentado no café, pensa no quanto não tem nada de excepcional e mesmo assim acha-se fantástico e sabe as coisas que mais gosta: adora o sol, a praia, copadas com os amigos, mulheres, melhor que isto tudo só a combinação deste grupo de coisas. Ah e a merda do tabaco, que anda a tentar largar há dois anos, tendo aguentado um recorde de uma semana até dia 8 de Janeiro, numa daquelas promessas estúpidas, que só gente estúpida como ele se considera, sequer supôe. Devido a essa brincadeira, teve um acidente (do qual foi o culpado) que o fez ficar sem o carro 2 semanas, pôs a sua secretária de baixa, deu cabo das unhas, dormiu pouco e mal, em suma, teve uma primeira semana do ano de merda até ao momento que às três da manhã comprou o seu primeiro maço do ano.

De repente ela chega, e a empregada que tinha uma mini-saia que quase o fazia perder a concentração, o jogo que estava a acompanhar enquanto se perdia nas suas ideias, a ressaca da noite de ontem, eclipsaram-se, ficou aparvalhado uns segundos o suficiente para deixar cair o cigarro no café, o que o fez levantar-se com um "merda" para pedir outro café fazendo-o cair misturado com o cigarro para cima do casaco beje que ela trazia, que lhe tapava aquelas formas fenomenais, felizmente que o sorriso que o deixava ainda mais parvo estava vestido como sempre, descontraído e seguro, mesmo quando acabava de perceber que provavelmente nunca mais iria poder utilizar aquele casaco que tanto gostava.

E nestas coisas, como qualquer gajo, pergunta-se como foi acabar assim, apaixonado, inquestionavelmente absorvida por aquela mulher maravilhosa, incapaz de perceber como fica assim tão parvo perto dela, tão fascinado, ao ponto de saber a cor exacta do casaco dela, de identificar o seu cheiro na multidão e ficar desconcertado, de se esquecer que era naquela paragem que tinha que sair porque estava a pensar nela.

Pensa que provavelmente gosta mais dela do que da sol, do que da praia, do que as copadas com amigos, do que alguma vez gostou de outra mulher.

Talvez porque consegue aquilo que nenhuma daquelas coisas consegue: fazer com que o seu Inverno lhe pareça agradável.

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