What's so Funny, hun?

Levanta a cabeça e observa-se no espelho partido. Repara nas veias bastante salientes do pescoço, apercebe-se da sua pulsação rápida, puxa as mangas da camisa para trás e sente a pulsação. Sorri. Nisto sai do quarto, entra na casa-de-banho, lava as mãos e a cara, assobiando uma versão disforme do paint it black intercalados por um sorriso histérico de felicidade. Sente que podia sair agora, como se nada fosse, e correr um pouco ou ir dar um mergulho só para aproveitar o momento. Mas não, talvez algo para beber, que tem a garganta seca. Pensa no que fez e sabe que a sociedade em geral se soubesse o que ele fez diria que ele é um louco , "que fritou", que não há nada a fazer e por isso devia ser abatido como um animal, outros teriam pena dele e diria que foi uma quebra psicológica, um esgotamento nervoso ou uma outra qualquer desculpa cientifica ou de médicos de café.

Gente estúpida por certo, quererem justificar as minhas acções. Mas que justificação? O que também não significa que tenha feito algo de errado. Simplesmente dividiu o mundo em dois tipo de pessoas: As que acham que produzem e desse modo contribuem para alguma coisa, pobres estúpidos, e aqueles que simplesmente desconstroem sabendo que o fazem. Porque raio tentou ele ser correcto, ser boa pessoa, praticar o bem? Ah ah que ridículo! É tão mais facil esticar a perna, mandar uma pedra, colocar C4 e observar o fogo de artifício.

Na verdade sabe que o que verdadeiramente o difere das outras pessoas não é o facto de, mesmo que só muito recentemente, ter vontade de destruir. Isso é o que a sociedade reproduz desde sempre através de uma educação disfuncionalmente cuidada. A justiça é utilizada quando dá jeito, a palavra distorce a realidade e destrói as pessoas pela violência e pelo cansaço com tanto ou maior força que as acções em si, em suma tudo é justificável quando no próprio interesse. Bate com a pistola na cabeça por não compreender porque raio tanto se esforçou para ser melhor, no fundo alinhando neste jogo, sofrendo cada vez que destruía de "forma aceitável".

O que o difere é o ter noção que destrói e em vez de se penitenciar, bem melhor é aceitar isso como um facto, aperfeiçoar a sua técnica e aprender a retirar prazer disso. Porque o mundo à sua volta é um parque de diversão onde a dor anda à solta, desde o chefe que diminuía os seus colegas ao máximo mas que por alguma razão achava que ele o compreendia, aos amigos interessados em fazer os filhos vencedores a todo o custo ou ao gerente de loja do supermercado lá do bairro que lhe sorri enquanto põe punha lixívia nos caixotes do lixo para que os sem abrigos não pudessem ir buscar alimento para o dia. A razão para estes comportamentos comuns e aceitáveis? Porque razão todos estes acham que os entendo?! Se calhar, perceberam que tal como eles, eu era um filho da puta e que só precisava de um leve empurrão para sair do armário. Seja como for, agora é compensar o tempo perdido e tirar o máximo prazer destes factos divertidos da vida e de, ao mesmo tempo, acabar com estas formas de competição.

Enquanto se senta no sofá e puxa de um cigarro, deita whisky num copo que trouxe da cozinha. Nisto, um riso histérico, descontrolado, fazendo-o debruçar-se, rolar no chão, só conseguindo parar muito depois de ter começado. Porquê? Digam lá que não tem piada que a sua mulher tenha decidido que o quarto dos dois era o sítio mais indicado para levar o gajo que a anda a comer, no mesmo dia em que ele é despedido e decide, contra toda a probabilidade da sua natureza pacífica, confrontar o chefe com uma arma colada à sua cabeça? O chefe, pelo feitio de frustrado que tinha, não terá achado muita piada ao ter uma bala enfiada no meio da testa. Mas a sua mulher, dotada de um excelente sentido de humor como era, o mais certo era ainda estar no chão a rebolar a queixar-se que já lhe doía o estômago. Porque, porra, tem mesmo muita piada.

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